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domingo, 28 de outubro de 2012

Estoque de borboletas


-Foi só um beijo. Não senti borboletas no estômago. Não ouvi sinos tocando. Foi um beijo bom, pois beijo por beijo é bom, mais nada. Não é o homem da minha vida.
-Para de procurar sinos, borboletas e outros mitos. Você não vai ter essas coisas, ao menos que eu te sabote, compre uns sinos, capture umas borboletas e dê um jeitinho especial - risos.
-Moni, você sabe do que estou falando. Você melhor do que ninguém - silêncio.
 
Meu nome é Mônica, tenho um quarto de século menos 1 ano, um Akita que se chama Lupicínio, uma casa de aluguel, metas, dinheiro e sua falta... e amigos, ah! meus amigos.
Certo dia de verão, para ser mais específica, no primeiro dia desse ano, conversei com um garoto de um sorriso lindo e uma conversa diferenciada dos outros, que só falavam de carros, futebol e mulheres. Este fazia perguntas, charadas, mexia com o lógico, sabendo ou não, envolvendo meu subconsciente. Havia prometido eu a não ter mais esperanças relativo a garotos. Pois os que não são pequenos, são estranhos. Os que não são estranhos, são fracos. Os que não são fracos, são burros. Os que não são burros, são feios. Os que não são feios, são cheios. Os que não são cheios tem namorada. Este não. Desta vez, havia encontrado um exemplar não-padrão. Gostei.
 
-Dessa, não é questão de saber. É questão que não acredito mais em contos de fadas. Prícipes são ótimos para garotas de 12 anos.
-Não me importa se não estou em um conto de fadas. Se for necessário ter 90 anos e ainda estar procurando o meu príncipe, que me faça sentir cócegas na barriga só de vê-lo, vou estar. Quero isso. Acredito nisso.
-Você não deve ter percebido que o tempo está passando. Família, filhos, se não for com o seu príncipe... vai abdicar disso nos seus próximos 50 anos?
-Não tenho planos para os próximos 50 anos. Quero vida nos próximos 50 anos!
-Vida, velha, solteira, pobre, sozinha. A capacidade mais admirável do ser humano é a de projetar. Quando criança você projetava o que queria ser quando crescesse, essa habilidade você perdeu, mas continua acreditando em um cara de cavalo branco, ou que hoje não seja mais cavalo e sim uma Captiva?
-Ou um Camaro amarelo! - risos.
-Ou Ferrari cor-de-rosa...
-Tá, eu sei que estou esperando demais da vida, mas você está me culpando por eu ser esperançosa? Por eu acreditar que o amor existe e dura? Pois eu não me culpo. A esperança é o que me matém sorrindo!
 
O nome dele é Luiz. Tem um quarto de século mais 1 ano, uma vira-lata-preta-grande-linda, um quarto grande na casa de seus pais, metas, dinheiro e sua falta... e charme, ah! seu charme.
Eu havia dado meu número de telefone a ele uns meses antes do dia 1º. Ele me ligava e eu não atendia. Eu não podia, não queria, não me permitia. Depois do dia 1º comecei a atender. Trocávamos mensagens. Conquistava-me a cada mensagem.
"Um frasco contém um casal de melgas. As melgas reproduzem-se e o seu número dobra todos os dias. Em 50 dias o frasco está cheio, em que dia o frasco esteve meio cheio?", respondi apenas 49.
"Madalena tinha vários biscoitos. Depois de comer um, deu metade do que restou para a irmã. Depois de comer outro biscoito, deu a metade do que restou ao irmão. Agora só lhe restam cinco biscoitos. Com quantos biscoitos começou ela?", respondi 23.
Eu queria ver ele de novo. Dava-me paz. Tomamos chimarrão num parque do centro da cidade. Eu nem gosto de chimarrão, mas aquele não estava fervilhando, nem amargo, nem doce. Conversamos sobre política, visão sobre relacionamento, sobre uns problemas no trabalho. A conversa fluia harmônica, até que me interrompeu com um beijo. Não senti borboletas na barriga. Não ouvi sinos. Parece que o mundo estava mudo. E borboletas eu senti quando cheguei em casa e lembrei do beijo. Em cada segundo, cada nanosegundo de lembrança com borboletas.
 
-Não te culpo. Apenas por experiência é que falo isso. Já senti coisas mágicas das quais não duraram para sempre. Essa coisa de paixão... Existem estudos que comprovam que duram de 6 a 18 meses tudo isso. - estávamos na frente do computador, aproveitei e pesquisei, surpeendi-me.
Li em voz alta o artigo do site Uma Visão do Mundo (http://migre.me/bot6k).
"Você já deve ter ouvido falar que a duração da paixão varia entre alguns meses até 2 ou 3 anos. Mas de onde vem isso? A psiquiatra italiana Donatella Marazziti, da Universidade de Pisa, mostrou que diversas substâncias cerebrais são liberadas quando estamos apaixonados. Segundo o estudo, enquanto, no início da relação é abundante um elemento químico chamado neurotrofina, que provoca o desejo, com o passar do tempo a quantidade dessa substância diminui, e ela é substituída por um hormônio denominado oxitocina, que consolida os sentimentos mais duráveis de amor e de compromisso. Enzo Emanuele, da Universidade de Pavia, na Itália, mediu o nível dos hormônios relacionados à paixão no sangue de 39 casais juntos há dois anos e chegou à conclusão semelhante. A professora Cindy Hazan, da Universidade Cornell de Nova York, entrevistou e testou 5.000 pessoas de 37 culturas diferentes e descobriu que o amor possui um “tempo de vida” longo o suficiente para que o casal se conheça, copule e produza uma criança. Este “tempo de vida” seria algo entre 18 e 30 meses.
Num outro estudo da psiquiatra Donatella, se observou algo interessante. Em casais apaixonados, enquanto os níveis de testosterona no homem (responsáveis pela agressividade, competitividade e desejo sexual) diminuem, o nível das mulheres cresce. É como se houvesse certo equilíbrio tornando o casal ainda mais igual para evitar conflitos. Há ainda a questão da compatibilidade com parceiros com genética mais diferente da nossa. Estudos sugerem que os genes MHC (sigla inglesa para “complexo principal de histocompatibilidade”) influenciam o odor e a saliva. Isso explicaria por que os parceiros mais “compatíveis” conosco (ou seja, aqueles com genes MHC mais díspares) teriam um beijo bom e um cheiro irresistível, enquanto entre aqueles com perfil genético parecido “a química não rola”.
Com base em pesquisas da Dra. Helen Fisher, antropologista da Universidade Rutgers e autora do livro The Anatomy of Love, pode-se fazer um quadro com as várias manifestações e fases do amor e suas relações com diferentes substâncias químicas no corpo. [...]
Mas espere. Vejamos este depoimento. Lisa Baber, 40, e seu marido, David, 46, de Bristol, dizem que ainda sentem o mesmo frisson de quando ficaram juntos pela primeira vez, há 17 anos. "Ele era louco e muito excitante, tirava meus pés do chão", diz. "Essa excitação está bem viva. Nós nos certificamos de que nossas vidas estejam sempre mudando."
Pois é! Um estudo recentemente realizado nos Estados Unidos indica que alguns casais conseguem se manter apaixonados mesmo depois décadas de união. Com a ajuda de exames de tomografia, cientistas da Universidade de Stony Brooks, em Nova York, analisaram a atividade cerebral de casais que estão juntos há mais de 20 anos. Eles descobriram que 10% deles, ao verem fotos de seus parceiros, mostraram as mesmas reações químicas que casais em início de romance.
"Nossos resultados vão contra essa visão tradicional [que a paixão dura pouco tempo], mas temos certeza de que o que conseguimos observar é real", disse o psicólogo Arthur Aron, um dos autores do estudo.Segundo os pesquisadores, quando os casais de longa data viam fotos de seus parceiros, seus cérebros indicavam um fluxo maior de dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer.
Para os cientistas, a descoberta indica que alguns elementos da paixão amadurecem, permitindo que casais de longa data desfrutem do que chamam de "companheirismo intenso e vivacidade sexual". Os pesquisadores disseram que esses casais têm o mesmo "mapa amoroso" cerebral que animais que mantêm os mesmos parceiros por toda a vida, como os cisnes, os arganazes e as raposas cinzentas. (Fonte: G1)
Finalmente, o psicólogo Arthur Aron diz: “Nós ainda não temos certeza quanto aos fatores que fazem a paixão durar tanto tempo em alguns casais. Mas há suspeitas de que esses motivos sejam mais uma questão de “quem” em vez de “o quê”. Pois é. Embora haja um senso comum, cientificamente embasado, para afirmar que a paixão não costuma durar muito, você já sabe que ela pode durar sim. Cabe a cada um de nós descobrirmos o melhor jeito de fazer nosso cérebro entender isso e desfrutarmos o melhor da vida. Afinal, é muito bom estar apaixonado(a), não acha?"
No fim, depois que eu e Luiz começamos a namorar, fui morar em outra cidade. Víamo-nos com a mesma frequencia de antes, de uma a duas vezes por semana. Acredito que eu tenha me distanciado, sem perceber, com o tempo, pela distância física e mental, pois tinha meus dias cheios. Quando notei já era tarde.  Acabou-se o estoque de borboletas. Algo foi perdido no meio do caminho e a melhor decisão que eu poderia tomar, em meio ao turbilhão que minha vida se encontrava, era o fim. Ainda é difícil pra mim. Ver nossas fotos, nossos momentos felizes. Tenho saudade e vontade de viver tudo aquilo desde o início.

O nome dela é Andressa. Tem um quarto de século,  uma casa de aluguel (moramos juntas), sem metas, com muitos amigos, não gosta que o Lupicínio suba na cama dela, gosta de sinos e borboletas, tem dinheiro e sua falta... e esperança, ah! a esperança.
 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Do amor ao ônibus

E 26 anos depois eles se separam.
Ela com uma lágrima na garganta e uma cara de forte.
Ele com uma cara de acabado, simples e plenamente acabado.

Por que esperar tanto tempo para tomar uma decisão?
Quanto mais tempo passa, mais se perde o tempo, mais vida se perde.

E foi assim quando entrei no ônibus e sentei em cima do cinto de segurança. Ameno e perceptível. No fim da viagem, incômodo, insustentável. Pensei na hora "nunca mais sentarei em cintos de segurança".

Há pessoas que demoram 26 anos pra perceber que o cinto está insuportável. O fim fica trágico. No início da viagem seria muito mais simples. Porém agora... é triste ver, porém é necessário. E necessário há muito tempo. Para os que ficam, boa viagem. E se for preciso descer e pegar outro ônibus, não titubeiem. Façam!