Ela
havia acordado mais tarde do que deveria, mas o sono persistia em
assolar sua percepção. Procurava um bom e velho ônibus, mais velho
do que bom, como pudera de ser, para encostar sua cabeça, pois bons
ombros amigos estavam longe, e ombros não são amigos por natureza.
Ela tinha alguns poucos trabalhos para serem feitos e alguns livros
para ler antes da prova de daqui a pouco, mas ao invés de fazer o
que sabia que era certo, procura as poltronas aconchegantes do quinto
andar para terminar o que houvera começado no 343 da Carris. Algumas
ideias insistiam na sua cabeça, ideias antes não cogitadas na sua
vida ocupada. Como diz a sabedoria popular, “Cabeça parada,
oficina do Diabo!”. Creio que as cabeças com sono também. Aposto
três libras, que você, querido leitor, já teve sonhos com seus
mais ocultos desejos, ou sonhos horríveis com sangue e efeitos
pirotécnicos, ou ainda, como os que estou sonhando ultimamente,
sonhos do mundo da fantasia, bem ao estilo Nárnia. A fantasia sempre
nos esteve presente, alguns acham besteira e outros fazem dinheiro
com isso, mas Maria, apenas faz perguntas.
Enquanto
ela estava a se aventurar, juvenil, em um primeiro casamento,
inserido por circunstâncias e decidido por sentimentos, ele já
estava no terceiro. Mais velho e com mais experiência em romances, o
que ele quer com ela? Ela estava esperando um anel, dentro daquelas
caixinhas vermelhas que fazem mulheres chorar, mas isso não veio.
Todavia, nem tudo está perdido, no lugar da caixinha vermelha, veio
um all star vermelho. Ela deu-se por satisfeita, temporariamente. A
dúvida daquela garota não seguia-se de insegurança de metais em
dedos, pois isso poderia também forjar-se, mas sim, dos sentimentos.
Seriam eles autênticos, dele por ela? Ou apenas uma forma de
sentir-se mais jovem e acompanhado? Uma forma de mostrar para si que
é suficientemente interessante para uma garota jovem dedicar sua
companhia?
Maria
desiste de tais dúvidas, pois as poltronas do quinto andar... Ah! As
poltronas do quinto andar! Estas sim chamam a atenção por onde
passam, mesmo sem sair do lugar.