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quarta-feira, 11 de maio de 2016

Palco giratório: guarda-chuvas pulsantes



- Será que seríamos bons escrevendo uma peça de teatro como somos bons vivendo nossa história?

- Acredito que sim. O fácil nos é relativo, assim como o bom. Desafios ... - ela é interrompida pelo sinal de início da peça.

As luzes se apagam. Acendem. Bonecos! Eles não esperavam bonecos no palco. Eles sempre não esperam muita coisa, preferem deixar e viver o que seja. Sem expectativas, sem frustrações. As texturas. As saltitâncias. As luzes. Engendres baratos e visualmente incríveis. Vassouras que eram moto. Vassouras que atiravam (mas que não eram metralhadoras!). Vassouras que decepavam. Vassouras que eram avião. Vassouras de ode às crenças medonhas dos pequenos homens de lá. Vassouras de guerra. Vassouras que varriam. Dialeto de entonações e vibrações fortes mistas com português, inglês, espanhol e magia. Macul reencontrou, liberto, o aconchego de sua mãe. A árvore da vida equilibrou e floresceu em guarda-chuvas pulsantes. Ela encontrou o calor do corpo dele quando seu braço direito descansou sobre seus ombros. Sustos. Sorrisos. Intimidade pública. Nos bancos de trás, uma turminha com a professora mais temida da Escola. Nos bancos da frente, velhos, jovens e crianças fascinadas pela a peça. Nos bancos deles, a desconfiança do encontro das mãos, a saudade do ser criança, a primavera da juventude, e a velhice vindoura que já se faz presente. Sapecas. Apaixonados. Filosóficos.

- Talvez livros. Livros de contos interligados, como nas histórias da Marvel.

- É. Também livros. - complementa ela.

- Livros de um auterego feminino, latente, de limites curvos... Que arremeda a vida dos outros nos seus ensaios de romance... - silêncio - Que divaga com veemência sobre o cesto de lixo com formigas, sobre a ironia das maçãs Seninha, sobre o céu de vanilla desta terra nestas estações perturbadas. Um poço de histórias e lacunas vazias!

- Vais precisar de tempo.

- É. Vou... Talvez uns dez anos.

Ela pensou em muitas respostas. Preferiu as entrelinhas. Sorriu e beijou seu pescoço. Urgência de sua derme.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Quintessência


"A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida"

Encontraram-se outrora, como fosse a cinco anos atrás.
Nada mudou. Ah! Mudaram as estações...

Não!

Claro que mudou. Você mudou. Eu mudei. Eles também tinham que mudar o que eram, como eram e o que tinham. Sobre o ter, tinham apenas seus corpos perdidos num planeta implorando para ser explorado, descoberto, revisitado. Mas conviviam com aqueles sentimentos que não matam a vida, todavia, a deixam com um pesar do estilo "como será que ele está?". Assim viveram em tempos de compressões cósmicas. O que fazer nesta capital fria, se a mulher a qual me apaixono repetidas vezes nos últimos instantes do Universo não está do meu lado?

Energia!

A ampulheta girou o quanto necessário. O tempo é diferente nos cantos do universo. E o Vinícius, tão sábio em suas palavras, previu a arte da vida.

Quintessência!

A resplandecência no encontro de corpos celestiais - a negação da decência dos homens arcaicos e a recriação da decência dos pós-modernos.

Nebulosa!

A doçura de seus lábios. A melancolia romântica de seus olhos. O sal de seu sexo. O colorir de sua alma. Ora, pois, que céu é este que mesmo tão próximo se mostra tão distante?

Em meio a calorimetria que gritava por ser analisada, pausaram. O universo de eventos é composto por sons e silêncios. Isto é a música. Esta é a música que eles gostam de ouvir juntos. Da explosão do encontro à tranquilidade do conforto do ser-estar-sentir.

Arrepio.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Esqueci o celular

Tempestade de outono.
Falta de luz,
de bateria.
Perdi minha fita dourada.
Peguei o ônibus.
Esqueci o celular.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Dona do Mundo

Numa empresa de programação acontecia um fenômeno interessante. Tal fenômeno ocorria além da percepção das pessoas que lá trabalhavam e, alheias a ele, as pessoas seguiam suas vidas traçando seus próprios destinos. Ou isso elas achavam. Mas entre essas pessoas estava alguém especial. Alguém que, mesmo alheio ao que ocorria, não se curvava a sua mercê.
O homem tinha cerca de trinta anos. Tinha cabelos escuros sempre desalinhados e olhar sonolento. A barba por fazer remetia a um período complicado em sua vida. No caso, o atual. Com sua mãe recentemente falecida, Luke se desapegara de muita coisa ao seu redor. Se irritava facilmente e várias vezes se pegou pensando em fugas de seu dia-a-dia. Era numa possibilidade dessas que sua mente brincava, pairando sobre a ideia como o movimento distraído de seus dedos a mover um cubo de açúcar em sua mão.