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terça-feira, 23 de junho de 2015

Depois de dois anos e meio


Talvez seus cílios fossem longos pelo rímel que usava,
Ou sua bunda fosse redonda pelos pensamentos que sobravam,
Ou suas palavras fossem cativantes apenas pelo jogo sedutor
que impregnava todo lugar por onde estavam.


Estava vivendo sozinha há algum tempo, numa pequena, pacata e fria cidade de algum canto deste planeta. Suas roupas não eram e nem podiam ser curtas diante do frio que sentia nas noites bem dormidas e bem acompanhadas por seus quatro travesseiros. A cama de casal era suficiente para ela se esparramar todas as noites, embora o que ela mais quisesse ainda era o sonho dourado de uma cama de solteiro acompanhada dele em Curitiba, bem sem espaço, bem sem travesseiros, bem cansada. Não. Não tem nada de mais em Curitiba hoje além de professores sendo espancados pela policia por ordem de um governador coxinha. Ela sabe que Curitiba talvez nem seja o que pensavam quando estavam juntos, mas ela sabe também que a saudade de projetar viver em Curitiba ao lado dele era o suficiente... Até para sentir saudade da Curitiba que nunca saiu dos projetos.

Ela rebolava para um lado, para o outro. Mergulhava nas cobertas procurando alguma descoberta milagrosa que a aliviasse as inquietações. Sempre isso, até dormir. Acordava na hora certa, ia pra aula na hora certa, trabalhava na hora certa, recebia o salário certo, pagava as contas nas datas certas, ouvia as bossas certas, tinha amigos certos. Estava tudo tão certo que ela não sabia o que havia de errado. Talvez soubesse.

No meio das correspondências ela encontra um cartão postal vindo de Curitiba. Estava escrito: não a nada de bom nessas ruas se você não está nelas. Ela percebeu o erro do não há nada de bom, que estava escrito sem o h. Sorriu. Procurou o remetente, mas não havia. Ela não precisava de nomes, pois em todas as histórias que viveram juntos nessa e em outras vidas, nunca tiveram nomes.

Num suspiro cheio de encontro, ela voltou a fazer companhia a si. Pensou em enviar um postal dizendo que sentia saudades, mas estava atrasada para dar a última aula do dia. Saiu.

Chega em casa as nove da noite e vai direto tomar um banho. Quase infartou quando viu ele escorado com toda sua malandragem inocente na porta do banheiro, vestido com o sorriso de sempre meio de lado, que deixava uma linha de expressão na bochecha esquerda, um blusão bordô, calça jeans e all star de couro branco. Ela podia imaginar que ele estaria com a camiseta do grêmio por baixo daquilo tudo. Certamente estava. Ela fecha a porta do box por alguns segundos e abre novamente. Ele permanece lá, olhando para ela que se escondia atrás do box. Ele diz:

-Saia logo daí, mulher!


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