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quarta-feira, 6 de julho de 2016

E viveram felizes para sempre

Pra mim ser feliz para sempre é correr rua.
Ver gente.
Jogar conversa fora.
Beber.
Dançar.
Transar.
Ouvir Chico.
Aprender esse mundo todo aí.
Criar!
Quero línguas novas.
Quero duplos sentidos.
Quero tudo que o dinheiro não compra.
Quero roubar frutas de árvores dos pátios dos vizinhos.
Quero amassos quentes em locais proibidos.
Não sei se vou querer isso tudo sempre.
Mas desde sempre quero isso.

terça-feira, 28 de junho de 2016

domingo, 26 de junho de 2016

Espaço-Tempo



- O quanto mais podemos falar sem falar o que queremos?

- O quanto mais QUEREMOS falar sem falar o que PODEMOS?

Alberto Burnman é um homem febril, de saúde frágil e sonhos lúcidos.
Burnman, de pensamentos emaranhados, transversais e de algum modo, lineares.
Burnman, de dentes, línguas e palavras afiadas.
Burnman, de sonetos acordados, de acordes sem acordos, de cordas com nós feitos nos bolsos como fossem fones.

- Isso é relativo. O tempo, nosso vilão favorito, nos dá uma percepção passiva do passado. Diminui, esfria, apequena.

- É... tempo como forma de distância, espaço-tempo. Um afastar para um olhar, um procurar.

- Uma busca!

- Isso! Uma busca!

Sabe quando médicos fazem uma piada que só eles riem e todo mundo que está a volta fica olhando sem entender? Uma espécie de acordo silencioso e com alguma graça? Pois bem, uma sintonia de mesma espécie preencheu o ar e os olhares dos dois naquela mesinha simpática e apertada. Sorriram.

- Então, eu vou pedir um hidromel.

Ele ri:

- Te acompanho!

Ele olha para a moça que atendia no bar. A moça estava olhando, já a espera do pedido.

Burnman, feito de poeira intergaláctica, doces e cigarros.
Burnman, observador de adereços e seus donos em festas lotadas.
Burnman, a última bergamota viva da fruteira, implorando por ser roubada numa tarde de quarta-feira.
Burnman, de dupla identidade e simples assinatura de iniciais.
Autor, diretor, produtor e intérprete do pacato monólogo de fogo da sua vida.

- O que quer fazer agora?

- Acho que podemos ir a algum lugar que venda cerveja mas não pareça tanto que querem só nos vender cerveja. - Visivelmente a atenção excessiva da garçonete em perguntar se estava tudo certo incomodou.

- Conheço um bar, só não sei se está aberto hoje.

- Ótimo! Esse é perfeito!

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Companhia



Era um apartamento bem pequeno, em uma espécie de condomínio do subúrbio. Shade vivia ali havia cerca de dois anos e a cada dia que passava, tinha mais dificuldade de lembrar como era sua vida antes de se acomodar àquela rotina. Sua esposa o deixara havia bem mais tempo e, depois de vários brigas jurídicas, havia ganhado o antigo apartamento que ambos se esforçaram tanto para quitar. Ela então passara a viver com o novo namorado e Shade se mudara para bem longe. Shade entrou em seu apartamento e cumprimentou Moony. A garota de cerca de vinte anos o saudou com sua energia infinita e um sorriso enorme.
- Fiz carinho num gato hoje! - ela disparou - Tinha uma mancha no olho como um mini-panda!
- Legal - comentou Shade, tirando as botas embarradas e as depositando perto da porta, ao lado de onde escorara o guarda-chuva.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Integral


Não gosto de crer que precisamos de algo ou alguém. Somos ótimos sozinhos, e por isso, inclusive e majoritariamente por isso, juntos somos incríveis. Talvez, isso nos una de alguma forma. Veja, os outros precisam de mim por um motivo ou outro. Você não precisa. Você quer estar. É diferente. É denso e liberto. Egoísmo? Você pode ver assim. Mas não é assim que nos leio.

Estava conversando com o Guido sobre o que é ser pós moderno. Ele me veio com uma história curta e pra mim, cheia de frutos. Contou que na época da Escola - Brooklyn, 1979 - tinha muita dificuldade em literatura, pois sempre confundia os períodos literários... o que veio primeiro? Barroco, Romantismo, Parnasianismo? Sabe, essas tantas coisas do tempo que perpassam as horas. Então o professor disse, "Não fique nervoso. Novos movimentos só surgem para se opor aos movimentos atuais. Do contrário, serão ainda o movimento atual. Mais do mesmo."

Com isso, após um longo período de sentimentos, vem a razão. Depois de longo período racional, vem o sentir... E é assim que funciona. Fechado. Cíclico.

Guido arrematou o assunto dizendo que após o período lógico da modernidade, da ordem, de generalizações, de métodos, de controle, de leis imutáveis, havia uma necessidade pela pós-modernidade. Ou seja, o tédio do moderno, do morno, do construído, deixa o caminho livre para a práxis do calor, do permitir, do reinventar, do frenesi da desordem de cores, nomes e amores...

Claro, como disse, Guido foi rápido e simples em suas colocações. A ideia é dele, as divagações são minhas. Ou melhor, são você. Você me faz pós-moderna. Não que eu precise - talvez precise. Confesso que os raios gama da modernidade ainda me assombram. Fragmentos da longa exposição desta ordem temida e bem escriturada.

Bem... retomando sobre o moderno e o pós-moderno, acredito que meus picos de modernidade fazem eu temer meu gostar por ti. Mas meus vales pós-modernos fazem eu gostar de te gostar, esquecer de te esquecer, e fazem eu querer te roubar para me entregar. Uma melodia de você. Integral. Integral em todos seus sentidos. Orgânico. Pleno. Matemático.

Você é uma abcissa.
Eu, uma ordenada.
Bem, temos um plano.
Cartesiano!
Juntas - nossas ideias
são uma função.
Como medir nossa imaginação?
Integre.

- Tenho alguma consciência que fui depositando peso em minhas palavras, uma forma de diminuir nossa distância, de que minhas palavras sejam meus olhos e meu corpo a você... mas, ainda me restava dúvidas se devia assim, me declarar a você, tão nítido, tão frágil... Gosto deste eu apaixonado. Gosto de como você me faz isso. Gosto mesmo disto tudo... Não sei ser mais ou menos com você.

- Não seja.