Desculpe, mas não é você.
E então eu penso, será que eu disse que teria esperança de achar que seria eu? Será que eu realmente pareço uma desesperada por um pouco da sua atenção? Será que eu aparento pensar em você? Logo eu, tão cuidadosa na meta armada para alcançar o desprezo. Logo eu, tão reles nas estratagemas de parecer dona dos meus sentimentos. Logo eu, que cuido em manter a mesma foto do perfil por dez anos e não corrijo a descrição para aparentar desleixo. Queria ser underground! Descobri que isso é só o metrô. Descobri quando a esperança que restou foi só um mapa turístico com as ruas principais, numa noite fria, com vento e chuva depois de dançar com desconhecidos e com alguma cerveja barata e tequila na cara. E quando estava quase certo que tudo só podia piorar estava lá ela, a placa redonda de bordas vermelhas UNDERGROUND. Eureka! Sempre soube que estávamos do lado da King's Cross! E não chegava. Não chegava. Não chegava. O mapa já era quase todo água quando achamos o prédio super alto da torre esquisita. Passamos uma das pontes sobre a maior ventania que experimentei. Inclinava meu corpo quase a 45 graus para a frente para conseguir sair do lugar. Nessa altura já não tinha mais álcool que amenizasse, até porque não tínhamos dinheiro qualquer para o álcool que fosse. Restava era chegar na porcaria daquele hostel castelo pesadelo, que só se via brasileiros trabalhando na limpeza, para tomar um banho quente. Pasmem: a válvula de abrir o chuveiro era de pressão como as torneiras de alguns shoppings, então era de 30 e 30 segundos pressionando aquela bosta! Viver com 8 libras por dia não é fácil. Quem mandou ser ryca em Roma? Eu avisei! Mas por que diabos ele achou que eu acharia que seria sobre mim? Se acha muito gostoso! Só pode! E por que eu deveria supor que era sobre mim? Será por causa das gavetas que dão pistas da minha falta? Será por causa das suas linhas sempre iguais, reparando sempre as mesmas características nas mais diversas personagens? É o vestido, a boca, os olhos... Puta que pariu! Será que as novas mulheres da tua vida tem que ter sempre os mesmos atributos. Escolhe uma que não seja míope, por favor. Ou cita as tatuagens, os piercings nos lugares inusitados, os vícios por chocolate ou cocaína, os aplicativos de layouts pré-formatados para "criar" cartazes de festas, ou a necessidade excessiva em querer ser underground. Mas faz um favor pra mim, explica que querer se afirmar e ganhar dinheiro em cima de artista morto é fácil, quero ver é ser metrô de verdade e transportar gente para os lugares aos quais essas pessoas querem chegar. Mas Londres não é uma cidade fácil! Aqueles ônibus de dois andares, aqueles undergrounds todos são só pra quem tem o cartãozinho que não é o TRI. Pra conseguir comprar aquela droga se gasta de início 10 libras. E como eu gasto 10 se eu só tenho 8 por dia? Não vou gastar! E assim desisti de ser underground e decidi ser transeunte. Ainda dizia para mim mesma "Assim tu sente a cidade passo por passo. É melhor assim!". Melhor assim? É louca! Foram 40km em 5 dias. Mas os museus eram de graça. Assim, eu dormi no Tate. Chegaram a pensar que eu era uma obra contemporânea! Bem, talvez eu seja. Mas eu queria mesmo era ser pós-moderna. E existe diferença entre contemporâneo e pós-moderno? Não sei! Eu poderia pesquisar e descobrir mas prefiro deixar que o destino me esbufeteie com a explicação em breves anos. Talvez até lá eu mude minha foto de perfil. Ou quem sabe, talvez até lá você escolha outras características para suas novas co-criações.
Ah! Desculpe. Aqui também não é você.