Total de visualizações de página

domingo, 3 de abril de 2011

Entre a vida e o MSN




Abro meu MSN e ele está lá, verde. Penso em chamá-lo, mas fico ali, com a página aberta, vendo sua foto.

Lembro tudo o que vivemos. Era outubro, nós dois tínhamos terminado com nossos namorados, ele, com sua namorada. Saímos numa tarde bonita, vimos o estuário, pegamos um vento maravilhoso. Quando sentamos no trapiche não pude me negar em acariciar seus cabelos. Amo cabelos masculinos ao vento, no brilho do sol. O cabelo dele era irresistível. Estávamos nós, mais dois amigos. Ele teve que sair mais cedo, pois já estava na hora de ir para seu trabalho, mas algo o prendia. Foi e voltou algumas vezes até o ponto do ônibus, até que armou seu argumento rapidamente. Resolveu dar um abraço de tchau em cada um, deixando-me por último, e na minha vez fez algo diferente. Não foi aquele o melhor beijo da minha vida.

Depois de muita conversa pelo MSN, ficamos mais amigos que sempre. Eu sabia da sua infância, dos seus problemas. Eu sabia um pouco de quase tudo da vida dele e ele da minha. Fui motivo oculto de um post do blog dele, o título era em inglês, mas dizia “Demônios na minha cabeça e anjos na minha vida” ou pelo menos era algo parecido. Eu abria diariamente, muitas vezes por dia, o blog dele. Lia, relia e lia de novo. Todavia, não éramos nada um do outro, apenas amigos.

Eu sabia que encontrava nele a resposta para qualquer pergunta. Poderia perguntar a coisa mais inibidora, que qualquer garoto da face da terra se negaria a responder. Ele responderia com a maior simplicidade, com o mesmo tom de voz que falava de matemática. Seu jeito diferente de ser me chamava atenção desde o primeiro momento em que o vi. Era um jeito delicado e misterioso. Alguns o achavam um tremendo chato, que sempre tinha resposta para tudo. Eu o achava esperto. Ele se achava esperto. Talvez fosse um dos seus defeitos: achar-se inteligente.

As primeiras semanas de novembro continuavam com sua doçura, seu encanto. Nossos ex’s nos chamavam no MSN, pediam para reavaliarmos nossas decisões de término. Ele me dizia para ser forte e não cair na lábia do meu ex, coisa que ninguém precisaria me falar.

Ele me contou que foi numa festa e viu sua ex com outro indivíduo. Estava nítido o abalo físico-emocional sofrido no final de semana. Ele havia tomado um porre de uísque e fumado alguns cigarros, algo do qual não fazia desde o último término, há alguns anos atrás. Contava-me com legítima franqueza tudo o que sentia. Contou da atração pela ex, da dor, de como ela sabia fazê-lo sofrer.

A ex-namorada dele acabou perdendo o emprego. Eles moravam juntos há alguns meses e tinham um contrato de aluguel de 1 ano (e uma multa de quebra de contrato) do apartamento. Ela estava com muitos problemas, pois a poupança que ele deixou não duraria muito tempo. Sem namorado para dividir as despesas, sem emprego e sem mãe, ela se obrigaria a pedir ajuda a seu pai, o que seria muita humilhação na visão dela, pois ele simplesmente a abandonou quando criança.

Em alguns dias pude perceber que não existia a mesma coisa que existia em outubro. Estávamos distantes. Muito próximos em metros, mas tão longe de alma que foi preciso me contar tudo o que estava acontecendo por MSN. Ele voltou com a ex. Hoje o vejo ali, verde, disponível. Não tenho mais coragem de chamá-lo. Desisti. Algumas vezes o chamei com um “oii!!” e nada foi-me respondido. Outrora perguntei se ele estava chateado comigo. Recebi uma resposta off-line “to chateado não!” e só.

Só quero saber por que ele não me bloqueia ou exclui? Por que me deixa vê-lo, ver seus subnicks, muitos para ex que hoje é a atual? Sei que nunca tivemos nada, que sempre nunca passou de amizade. Então por que isso me incomoda? E se para ele também foi só isso, sempre isso, por que ele não me trata como antes, não me trata como sua amiga? Prometo para mim, nunca mais o chamarei. E se a vontade do clique duplo sobre seu nome prevalecer, obrigar-me-ei a bloqueá-lo e excluí-lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comenta aí!!