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terça-feira, 23 de julho de 2013

Rosas, Livros e Asteroides

O projeto do residencial geriátrico na França não mais poderia ser concretizado. Sua filha mais nova já anda investigando suas possíveis habilidades de futuro. Não tiveram todos os filhos dos planos de 30 anos atrás. O mundo na rua também está bem diferente. Ninguém mais vai à rua. Neve de manhã. No mínimo 45 graus Celsius à tarde. As calotas... Bem, constam nas redes de história e geografia dos menores. Os livros estão apenas no Museu Central de Washington. O Sol serve como energia para sustentar a infra-estrutura das grandes fortalezas. A Lua serve de lembrança para os eternos românticos, de ambiente para desenvolver tecnologias radioativas e de centro de análise para cálculos da rota elíptica terrestre, que sofre desvios constantes. A internet é distribuída junto com a eletricidade sem fio, disponível de maneira gratuita a todos. A água era dessalinizada e racionada. As plantações se davam em estantes de prédios de pequeno porte, de aproximadamente 40 andares. O ar era filtrado por grandes estruturas de 500 em 500 metros. Aquele que achasse pouco, poderia comprar um filtro para sua própria casa ou, como solução mais barata, comprar seu cilindro de oxigênio. O oxigênio não era tão caro quando comparado ao valor do próprio cilindro. A extração de metais da natureza era muito complexa e em grande parte era destinado à ampliação das fortalezas.

-Olá mamãe! Como está?

-Bem, Sofis! E como foi seu dia hoje?

-Ah... O de sempre, né mãe. Não aguento mais o novato. Não aceita ordens. Acha que tem soluções milagrosas. Cê sabe que jogar num videogame é bem diferente que pilotar uma nave. Pois ele não. Mas onde está papai?

-Seu pai está entregando dez cilindros. O Leandro se demitiu hoje de manhã, disse que tá cansado dessa vida de entregador e quer ter seus próprios cilindros.

-Cê acha que isso vai afetar os aluguéis do pai? Um concorrente surgindo?

-Não... Aposto que depois de gastar todo o dinheiro que ele pegou, vai voltar aqui pedindo emprego e seu pai vai dar, aposta quanto?

-Sei que papai tem bom coração, desde quando ele me levava pra aula e... Ah! Nostalgia não me faz bem.

-Você tem razão, Sofia. Me fala mais sobre o novato. Certeza que é só a marra dele que te incomoda?

-Claro, mãe! Não me venha falar de amores por agora!

-Hey! Foi você que falou de amores! Minha filha, já fui jovem. A Terra era diferente, mas as pessoas eram as mesmas. Não há nada mais perigoso que um garoto charmoso.

-Tá bom, oráculo! Vou tomar um banho antes que acabe o horário.

Ela recebe uma mensagem em seu clocker. Era ele. Sempre tão humano. Sempre tão romântico. Talvez seja o último deles.

Não precisa tanta vaidade 
Esquece a maquiagem
Já tô no elevador
Antes de você se perfumar
Sinto seu cheiro do corredor...
Meus olhos só querem te ver
do jeito que você tá!” 

Essas palavras recordam uma música sem melodia, de quando o verde tomava conta dos parques. Ele envia mais uma mensagem.
Me encontra no B-J13 agora. Tô te esperando. Te amo.”
Ao chegar no local referido, encontra uma rosa vermelha no banco. Sob a rosa, o clocker do seu amado, que projetara a frase “Volta logo pra casa que eu tô com fome!”. Ela sorri e pensa o quão bobo ele consegue ser e o quão apaixonada ele ainda a deixa, mesmo depois de 3 filhos. O leitor óptico reconhece a íris dela e a porta de sua casa se abre. Sobre a mesa da cozinha, o presente mais inesperado: o último exemplar terrestre do Guia do Mochileiro das Galáxias.
-Deus do céu! De onde você tirou isso?

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