Ele se espreguiçou.
- O amor não existe realmente.
Ela sorriu, guardando o celular.
- Isso é um veredito?
- Talvez. - pensou um pouco - Tem
provas do contrário?
- Talvez. - tamborilou os dedos
no joelho - Por que essa desilusão amorosa do nada?
Ele soltou um suspiro cansado.
- Se existe amor, onde ele está?
Estou procurando no lugar errado? Nas pessoas erradas? Ainda não o encontrei...
Ao longo dos anos muitos tentaram
definir o amor, mas algum deles havia pedido a opinião feminina? Ele não lembrava,
mas não custava tentar. Olhou para ela, como que esperando uma resposta
definitiva para suas duvidas.
- Como é que eu vou saber? O amor
é natural. Não se vê, não se pega. Se sente e se vive. Acho que sua definição
de amor está errada.
Não era aquilo que ele queria.
- Isso que você diz... Isso não é
amor - fitou as janelas do prédio à frente do banco onde estavam sentados, buscando
inspiração - O amor está onde a alma toca o corpo, por assim dizer. Não onde os
corpos se tocam.
Ela riu.
- Um ateu falando de almas...
Acha que eu não sei que existe uma diferença entre pênis e coração? - riu
novamente – Além do mais, o amor de uma pessoa não é um saco de batatas, você
pode dividí-lo com outras pessoas sem medo que se esvazie - ergueu um dedo - O
amor não é único como você disse. Melhor, ele é único, mas varia de uma pessoa
a outra. Não se ama mais ou menos alguém em relação a outra, mas se ama cada
pessoa de uma forma diferente e única - concluiu sorrindo, parecendo, para ele,
com uma criança que acaba de ditar e resolver uma conta difícil de cabeça.
Pensando nisso ele também sorriu.
- Tudo bem... Então você acredita
no Roberto Carlos, não?
- Quê? - respondeu desconcertada.
Ele riu.
- Eu o odeio com toda minha
existência, mas conheço muitas musicas. Já prestou atenção nas letras? -
encarou-a com os olhos cerrados - Acredita em toda aquela baboseira? Ele parece
um marinheiro, compondo com seu ultimo relacionamento pra seduzir outra garota
no próximo porto.
- Você nunca se apaixonou?
Aquilo o pegou desprevenido. O
que poderia dizer?
- Sim - pensou um momento - Mas
estamos falando de amor, não de paixão. Quando se apaixona, leva-se em conta a
imagem que se criou da pessoa, que dificilmente não é perfeita. Ouvi dizer que
o amor vem do conhecer e amar até mesmo os defeitos.
- O amor vem depois da paixão. É
isso que você queria, não é? - disse ela, levantando e parando em frente a ele
- É aí que fica o amor. Deixe-se conduzir pela sua próxima paixão e ela te
levará até a porta do amor, talvez até te apresente a ele.
Ela puxou-o do banco e o deixou
de pé.
- Já estávamos atrasados antes de
você começar a divagar seus choramingos. - apontou para a entrada do prédio -
Agora, tchau.
Ele estava quase na porta quando
olhou para trás, vendo-a ir embora na direção oposta. Coçou o queixo, deu um
sorriso triste e entrou.
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