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terça-feira, 15 de março de 2016

Programação



Venha, desce daí
Deixa eu te levar pra um café
Pra conversar, te ouvir e tentar te convencer

Que a vida é como mãe
Que faz o jantar e obriga os filhos a comer os vegetais
Pois sabe que faz bem

Moça, sai da sacada
Você é muito nova pra brincar de morrer
Me diz o que há, o que que a vida aprontou dessa vez

       Seu gosto pelo atropelar das coisas. A menina dos cabelos vermelhos não é mais a menina da mamãe, pois sua mãe morreu de câncer há alguns anos. Também não é a menina do papai, pois não acredita que aquele acoólatra pode ter sido um. Muito menos é uma menina, pois hoje ela sente que cresceu.

       Da sacada do seu apartamento enxerga a torre dos parafusos que perdeu e dos amores que encontrou. Ela toma uma xícara de café preto, recém passado, sem açúcar, para aumentar sua gastrite, e pensa sobre seu ex-cigarro matinal. Ah! Seu ex-cigarro e sua torre! Combinação perfeita para começar o dia. Ela largou do cigarro há 3 dias. Ela ganhou compania em sua cama há 3 dias. Era só para passar uma noite, mas já são 3 malditos dias dele lá. Ela se pergunta por que diabos mentiu que não fumava. Estava na hora de mandar ele embora, ou contar a verdade, ou as duas coisas!

       Nada fez. Quase três anos sem fumar.

       Era cômodo para ele. Belas pernas, sexo, a um ônibus de distância de todas as coisas que pudesse querer, gato na luz e na água, sem pagar aluguel. Até que apareceram novas belas pernas, sexo, a 10 minutos a pé de todas as coisas que pudesse querer, gato na luz e na água, sem pagar aluguel.

       A menina dos cabelos vermelhos volta com seu antigo vício. Da sacada vê seu ex-namorado com uma menina de cabelos dourados andando na rua, fumando. A torre dos parafusos está maior que nunca. Cansou de romances. Sobe no parapeito.

Moço, ninguém é de ferro.
Somos programados pra cair.

Ler ao som de Amianto (Supercombo)
Inspiração para a história

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